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Brasil inova com Currículo Azul e inspira o mundo na educação para o oceano

Com Escolas Azuis em quase todo o país e participação de 160 mil estudantes, programa reconhecido pela ONU integra cultura oceânica e clima ao ensino básico

 

Uma política pública pioneira no Brasil vem transformando a forma como escolas, professores e estudantes se relacionam com o meio ambiente e com o oceano. É o Currículo Azul, programa reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), que conecta educação básica, pesquisa e extensão universitária, formando cidadãos preparados para enfrentar os desafios climáticos do presente e do futuro.

Na prática, o Currículo Azul estimula que cada escola reconheça sua própria realidade e desenvolva projetos alinhados aos grandes temas globais, como mudanças climáticas, biodiversidade, segurança alimentar e saberes locais. O projeto é um dos finalistas na categoria Educação do Prêmio Espírito Público (PEP), promovido pela República.org.

“O diferencial é que o Currículo Azul não vem pronto. Ele é construído com a comunidade, valorizando a liderança local. É essa liberdade que garante engajamento e impacto real”, explica o biólogo Ronaldo Adriano Christofoletti, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos coordenadores da iniciativa. O Currículo Azul é desenvolvido pela Unifesp em parceria com a Unesco e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e integra a chamada cultura oceânica aos currículos escolares.

 

Escolas Azuis se espalham pelo Brasil

 O braço mais visível da política é o Programa Escola Azul, criado em 2020 e já presente em 619 escolas de 194 cidades, alcançando mais de 160 mil estudantes e 3.200 professores. Apenas Rondônia ainda não possui escolas credenciadas. Municípios como São Sebastião (SP), Itacaré (BA), Barcarena (PA) e Pontal do Paraná (PR) decidiram aderir de forma integral, transformando toda a rede municipal em Escolas Azuis.

Cada unidade cria seu próprio caminho. Há escolas indígenas em Mato Grosso do Sul que, com apoio de lideranças locais, passaram a desenvolver novas palavras em suas línguas tradicionais para nomear elementos ligados ao oceano. Outras investem em robótica para pensar soluções para o lixo nos rios e mares. Há também experiências voltadas à pesca artesanal, ao monitoramento de queimadas por satélite ou à investigação dos impactos do uso de protetores solares sobre os corais.

O Currículo Azul também tem foco na formação continuada dos professores. Com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi lançado em 2025 o primeiro curso nacional de especialização em cultura oceânica, já com mais de 1.200 docentes matriculados na modalidade a distância. Além disso, universidades de todo o país produzem materiais pedagógicos (jogos, cartilhas, vídeos e guias) adaptados às diferentes realidades regionais.

Outro marco foi a atualização dos mapas oficiais distribuídos nas escolas brasileiras: a partir de 2023, eles passaram a incluir a chamada Amazônia Azul, área de 11 milhões de quilômetros quadrados sob responsabilidade do Brasil no oceano Atlântico. A mudança ajuda estudantes a compreenderem que o território nacional vai além da linha de praia e que a zona costeira é estratégica para o desenvolvimento sustentável.

O projeto busca garantir oportunidades iguais para todos, com a distribuição de bolsas de estudo e apoio a estudantes a partir de critérios de equidade. Olimpíadas, cursos e eventos oferecem provas adaptadas para diferentes condições, incluindo déficit de atenção.

 

A compreensão do papel do oceano tem mobilizado cada vez mais pessoas

A Olimpíada do Oceano, um projeto educacional aberto a estudantes e à sociedade em geral, já mobilizou mais de meio milhão de pessoas em suas diferentes modalidades, com projetos que vão de soluções tecnológicas a produções culturais. O tema também ganhou centralidade na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que em 2025 tem como eixo a cultura oceânica e a resiliência climática.

Para Christofoletti, o maior mérito do projeto é sua construção coletiva. “O Currículo Azul não é feito para a sociedade, mas com a sociedade. Ele respeita a diversidade do Brasil e reconhece que cada território tem contribuições únicas. É essa pluralidade que o torna forte e replicável”, afirma o biólogo.

Em abril, veio o reconhecimento internacional, quando a ONU destacou o pioneirismo do Brasil na implementação do Currículo Azul. Poucos meses depois, em junho de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou o programa em seu discurso na Conferência da ONU sobre o Oceano, na França, defendendo que outros países sigam o exemplo brasileiro.

O Currículo Azul se organiza em quatro eixos principais: políticas públicas (com leis já aprovadas em 25 municípios e quatro estados); formação de professores; produção de materiais pedagógicos; e engajamento social. Juntos, eles sustentam uma política de longo prazo que conecta escolas, universidades, governo e a sociedade.