Saúde

Magna Damasceno

Taboão da Serra (SP)
Finalista no eixo Saúde

Trajetória

Filha de pais nordestinos, mas nascida e criada em Taboão da Serra (SP), Magna Damasceno aprendeu desde cedo a abrir os próprios caminhos. Aos 7 anos, descobriu através de um filme que existia uma profissão em que poderia “entender a humanidade das pessoas”. Mesmo vivendo numa época na qual ingressar no ensino superior era um sonho distante para uma jovem negra e periférica, decidiu que iria estudar Psicologia. Foi a primeira da família a entrar na universidade, que custeou dando aula em escola pública desde os 18 anos. Embora ainda não soubesse, a vocação para ouvir e ensinar traçaria o seu destino.

Formada pela FMU, com mestrado pela PUC-SP e mais uma coleção de especializações, Magna nunca desistiu de lutar contra o racismo institucional. A sua trajetória no serviço público começou como professora há 29 anos, mas migrou para a Saúde em 2007, quando foi convocada para atuar como psicóloga nas unidades básicas de saúde (UBS) do município de Suzano (SP). Por 10 anos, conciliou os atendimentos com a coordenação Rede de Atenção à Pessoa em Situação de Violência Doméstica e Sexual até, enfim, dedicar-se exclusivamente à gestão em 2017. Pouco a pouco, implementou mudanças no acolhimento às vítimas que transformaram por completo a cidade.

Um dos maiores feitos de Magna foi desenvolver um questionário de classificação de risco, similar aos utilizados no pronto-socorro, que categoriza os casos de violência conforme o grau de vulnerabilidade dos pacientes. Ou seja, fazendo uma leitura interseccional para além da gravidade dos ferimentos. Junto a isso, investiu em capacitações in loco, multidisciplinares e continuadas para os profissionais que atuam na ponta e implantou núcleos de prevenção à violência (NPV) que acompanham as vítimas após o atendimento primário. Tudo é registrado em um banco de dados chamado monitoramento do cuidado, que provê indicadores de melhoria contínua e o cruzamento com outros sistemas do SUS. Atualmente, cerca de 1700 vítimas são monitoradas em 24 UBS de Suzano e, em breve, a metodologia será levada para 10 municípios do Alto Tietê.

“Tentar trazer um pouco de qualidade na assistência é andar na contramão, porque nós vivemos ainda numa sociedade que acredita que mulheres negras e periféricas, que são a maioria das vítimas, estão no lugar delas — portanto, não precisam de uma assistência de qualidade”, destaca. “Mas eu também sou a mulher preta e periférica.”

Por acreditar que é possível romper o ciclo da violência com atendimento de qualidade aos mais vulneráveis, Magna Damasceno é finalista no eixo Saúde do Prêmio Espírito Público 2022.

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