Saúde

Joel de Andrade

Florianópolis (SC)
Vencedor no eixo Saúde

Trajetória

A história de Joel de Andrade começa no bairro de Vila Operária, em Urussanga (SC), de onde só saiu quando foi cursar Medicina na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desde cedo, precisou assumir a tarefa de cuidar da própria família. A vontade de transformar o cuidado em ofício, no entanto, só surgiu aos 12 anos, quando descobriu que, através do serviço público, poderia trabalhar em algo que tivesse impacto no mundo. Anos mais tarde, era exatamente isso que ele faria.

Na faculdade, viu suas certezas mudarem de lugar ao se apaixonar pela emergência, apesar de todos os seus desafios. Decidiu, então, aprender tudo o que podia nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais públicos, onde atuou como intensivista por 10 anos. Mestre pela UFSC e doutor pela UFRJ, Joel afirma com orgulho que, ao longo de toda a sua carreira, foi um “médico da vida pública”.

Em 2005, recebeu o convite para atuar como coordenador da Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina. Na época, o sistema de doação de órgãos do estado tinha um baixo desempenho e a maior parte dos pacientes que necessitavam de transplante eram transferidos para outras regiões. A partir de um diagnóstico do cenário, Joel viu a oportunidade de adaptar o modelo espanhol — líder mundial em transplantes — para a realidade do estado.

Com apenas seis meses de implementação, o número de transplantes em Santa Catarina já era o dobro do ano anterior. Em pouco tempo, o estado assumiu a liderança nacional, chegando a superar as taxas de doação da nação ibérica anos mais tarde. De lá para cá, cerca de 20 mil vidas foram transformadas graças ao programa SC Transplantes.
Para Joel, o resultado é fruto do trabalho dos coordenadores e das equipes de transplantes que atuam em 64 hospitais do estado — antes, apenas 10 faziam doações —, e da generosidade das famílias doadoras. Com a “cultura de doação de órgãos” criada a partir do treinamento e remuneração dos profissionais de saúde de Santa Catarina, a taxa de não autorização familiar passou de 70%, em 2007, para 31%, em 2021 — contra 42% no Brasil no mesmo ano.

“É fundamental que um profissional de saúde saiba se comunicar. A gente vê a morte todo dia, mas as famílias só veem uma vez”, pontua. “Eu acho que a maior lição que o serviço público me ensinou foi que as conquistas não são atos heroicos, elas são fruto de planejamento, persistência e negociação.”

Por acreditar na potência da saúde pública e de qualidade para resgatar a vida até nos momentos mais difíceis, Joel de Andrade é vencedor do eixo Saúde no Prêmio Espírito Público 2022.

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