Segurança Pública

Kelly Carvalho

São Luís (MA)
Vencedora no eixo Segurança Pública

Trajetória

Natural do Distrito Federal (DF), Kelly Carvalho foi para o Maranhão ainda pequena com a mãe e a avó, que a criaram sozinhas. Durante toda a juventude, morou em um bairro da periferia de São Luís marcado pela violência. Estudou a vida inteira em escola pública, sempre incentivada pela família a buscar conhecimento e estabilidade na vida. Já no ensino médio, traçou como objetivo entrar no ensino superior, mas não passou na primeira tentativa e, para não abrir mão do sonho e arcar com os custos de um curso preparatório, trabalhou como caixa de supermercado.

Ao final de 2001, Kelly não só havia sido aprovada no curso de Serviço Social na UFMA, como em um concurso para atuar como agente penitenciário no Sistema Prisional do Maranhão, cuja convocação se deu quatro anos mais tarde. No primeiro dia na função, diante de um ambiente “desestruturado” e “insalubre”, ela confessa que quase desistiu. No entanto, aos 25 anos, casada e mãe de uma bebê, o trabalho era a chance de ter a estabilidade que sempre quis e nunca havia tido na juventude.

Ao longo dos 17 anos de carreira no serviço público, Kelly buscou deixar um legado por onde passasse através de projetos que tornassem a vida das pessoas melhores. De 2005 a 2014, viu de perto os efeitos da violência nas unidades prisionais (UPs) do estado, que já chegaram a figurar entre as piores do Brasil. “O sistema penitenciário é um termômetro da nossa sociedade”, pontua. Ainda assim, antes mesmo da mudança de gestão que, a partir de 2015, tornou o sistema do Maranhão uma referência para o país, ela já tinha promovido transformações no seu microcosmo — unindo a bagagem como assistente social à vontade de romper com o “ciclo de violência interminável”.

O primeiro deles nasceu em 2012, após se deparar com uma criança, filha de um dos internos, dentro de uma cela sozinha com outros detentos. A partir disso, construiu dentro da unidade os Espaços de Vivência Infantil: áreas decoradas de forma lúdica, sem remeter ao ambiente carcerário, com materiais pedagógicos e restritas aos pais e às crianças. Ao assumir um cargo de gestão na Secretaria de Administração Penitenciária em 2015, o modelo foi exportado para todas as penitenciárias do Maranhão.

Em 2016, atuou na implementação de Comissões Técnicas de Classificação (CTC) nas 47 unidades prisionais do estado, modelo que contribuiu para uma transformação estrutural que levou o Maranhão ao primeiro lugar em educação e trabalho prisional no Brasil. Por meio de equipes multidisciplinares, as comissões traçam o perfil de cada interno e entendem as possibilidades de desenvolvimento. Assim, são capazes de realizar um efetivo trabalho de Individualização da Pena, previsto na Lei de Execução Pena, e promover a ressocialização de forma humanizada.

“O papel do sistema não é meramente encarcerar, é trabalhar a execução da pena, garantir direitos e buscar alternativas para que essas pessoas consigam construir uma nova história”, explica Kelly. “O que acontece dentro das unidades interfere diretamente na sociedade: se essas pessoas saem mais violentas, é a violência que também volta.”


Por acreditar na humanização das pessoas privadas de liberdade como caminho para uma sociedade mais segura e mais justa, Kelly Carvalho é vencedora no eixo Segurança Pública do Prêmio Espírito Público 2022.

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