Desenvolvimento Social
Francinéa Dias
Barcarena (PA)
Finalista no eixo Desenvolvimento Social
Trajetória
A história de Francinéa Dias começa em Barcarena (PA), mas migra para Belém (PA) antes mesmo de completar dois anos. Nascida em uma família com cinco irmãos, foi criada na capital pelos tios, que considera seus segundos pais. Cresceu viajando entre as cidades, sempre aconselhada a estudar e buscar estabilidade no serviço público. Sem nunca perder o olhar atento para os problemas sociais ao seu redor, decidiu cursar Serviço Social na UFPA. Não demorou muito para descobrir que havia encontrado ali a sua missão.
No último ano da faculdade, Francinéa engravidou. Com incentivo da sua rede de apoio, concluiu a faculdade e prontamente deu início à busca por um cargo público na área. Aos 23 anos — formada e com uma bebê no colo — voltou para Barcarena atrás de uma oportunidade na Secretaria de Assistência Social do município, onde foi contratada em 2002. Logo na primeira experiência, ficou responsável por visitar o domicílio de idosos e pessoas com deficiência que recebiam o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Vendo o que era a extrema pobreza de perto e sentindo-se impotente diante da falta de uma rede de assistência estruturada no município, sabia que algo deveria ser feito — e foi lá e fez.
Para dar dimensão do desafio que Francinéa encarou, é preciso entender o que era Barcarena naquela época — e como a ausência de uma rede de assistência social abria margem para a desumanidade. Importante zona portuária no estado do Pará, o município integrava uma das principais rotas de tráfico humano do país, cujas vítimas em sua maioria eram mulheres e meninas exploradas sexualmente. Nesse cenário, a extrema pobreza e a ausência de políticas públicas empurravam mais e mais pessoas para um estado de violência e vulnerabilidade sem perspectiva de fim.
De contratada à concursada em 2006, Francinéa reuniu pessoas dispostas a criar uma rede de assistência efetiva. Assim, já no ano seguinte, Barcarena ganhou o seu primeiro Centro de Referência de Assistência Social (Creas). Foi o início de uma série de políticas que transformaram a cidade e engajaram não só instituições, mas também a própria população, que participava ativamente das conferências municipais. Em 2008, Barcarena passou a contar também com um abrigo para acolher crianças e adolescentes.
Francinéa também deixa como legado a criação da Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres e o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, implementados entre 2009 e 2015, e diversos programas sociais que impactam desde vítimas de violências a comunidades ribeirinhas.
“Eu acho que na Assistência Social é assim: ou você se apaixona ou você não gosta e pede para sair. No meu caso, eu me apaixono até hoje. Tenho 20 anos [de serviço público] e quero me aposentar aqui”, conta. “ Eu acho muito legal perceber como às vezes, lá no início, a gente está entrando na carreira e não consegue imaginar que pode alcançar certos espaços. Hoje estou como secretária e nunca imaginei que estaria [aqui]”, acrescentou.
Por acreditar que a Assistência Social pode ser agente de transformação até nos contextos mais desafiadores, Francinéa Dias é finalista no eixo Desenvolvimento Social do Prêmio Espírito Público 2022.