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Programa da Universidade Federal de São Carlos ‘acolhe’ alunos de baixa renda com perfil para ciência

Iniciativa partiu das dificuldades enfrentadas por um professor para realizar o sonho de ser cientista

Transformar a trajetória de crianças de baixa renda por meio da educação tem sido a missão central do Projeto Futuro Cientista (PFC). Criado em 2010, o programa é uma iniciativa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, que apoia e acompanha crianças em situação de vulnerabilidade social que desejam ingressar em uma universidade e, especialmente, trilhar uma carreira na área da ciência.

Ao longo de 15 anos, mais de 2 mil pessoas que passaram pelo PFC conseguiram entrar em uma faculdade, além dos alunos que escolheram profissões que não necessitam de Ensino Superior. A ideia surgiu de um sonho de infância de Fábio de Lima Leite, professor do Departamento de Física, Química e Matemática do Campus Sorocaba.

Quando criança, Fábio vivia em uma cidade pequena e achava que era impossível entrar na universidade e se tornar um cientista. Ele conseguiu, mas enfrentou dificuldades pelo caminho. Adulto, resolveu facilitar o acesso de crianças de baixa renda: criou um programa que acompanha o estudante desde o 5º ano do Fundamental até as portas da universidade pública.

Crianças sonhadoras conseguiram entrar na universidade

“Desde a criação do programa, temos visto crianças sonhadoras, como eu era na infância, conseguirem entrar em uma faculdade”, declara Fábio de Lima Leite. 

O “Programa Futuro Cientista” é um dos projetos que se destacaram na categoria Educação do 7º Prêmio Espírito Público. Chegou à final da premiação, organizada pelo Instituto República.org, que reconhece e valoriza iniciativas de servidores públicos que estão mudando o Brasil.

O projeto é fruto de uma parceria da UFSCar com as prefeituras de cidades de São Paulo. Para que os alunos de escolas municipais e centros de acolhimento (antigos orfanatos) tenham acesso ao projeto, há três critérios. O primeiro deles é a condição socioeconômica, com preferência para as crianças de baixa renda. O bom rendimento acadêmico é o segundo pré-requisito. Por fim, a avaliação do comportamento do aluno em sala de aula.

“O estudante precisa demonstrar interesse em seguir os estudos até a universidade, não ser faltoso e ter respeito pelos professores”, acrescenta o coordenador do programa.

As turmas têm, no máximo, 20 alunos. As aulas, atualmente, acontecem em 50 escolas espalhadas por 12 cidades. O ensino é ministrado por 20 supervisores, que são estagiários de cursos de licenciatura. Os encontros acontecem uma vez por semana, sempre no contra turno dos alunos. Nos dias da atividade extra, os estudantes ficam o dia inteiro.

Rigor nas aulas de redação visam nota alta no Enem

Durante um período de duas horas e meia, os alunos participam de várias atividades previstas na cartilha do programa. Entre essas atividades estão o Clube de Ciências, uma tarefa semestral que ocorre em duas fases e é realizada em grupos; o Clube do Livro, que também acontece semestralmente; a Maratona Científica, uma atividade individual realizada on-line; e a Escola Preparatória de Futuros Cientistas, que oferece uma imersão na profissão científica por meio de minicursos, palestras, oficinas e dinâmicas relacionadas ao campo da ciência.

A cartilha também inclui um Concurso Literário, uma atividade individual desenvolvida ao longo do semestre. Para essa tarefa, os alunos são responsáveis por redigir um texto. A correção das redações segue os critérios do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Na redação, as exigências são grandes. O aluno precisa ser muito bom. O nosso objetivo é que o estudante entre na universidade. Sabemos que a redação tem peso importante na nota do Enem”, acrescenta o professor.

O Programa Futuro Cientista é uma marca registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e uma tecnologia social certificada pela Fundação Banco do Brasil, criada para promover a inclusão científica de jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. O projeto é realizado em parceria com as secretarias municipais de Educação.

Além disso, tem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a promoção anual do Encontro Regional de Futuros Cientistas (ERFC). E conta  também com o apoio da Fundação Educar (DPaschoal), para a doação de livros, e da Rede Tauste Supermercados, para a doação de produtos para realização de eventos.