Saúde
Santos, São Paulo
Trajetória
Sandra Conceição dos Santos tinha 24 anos quando começou sua trajetória no serviço público, em 1992. Ingressou no Projeto Favela como auxiliar de desenvolvimento infantil e ajudando mulheres a trabalhar. A iniciativa acontecia no Jardim Jaqueline, em São Paulo, próximo a onde Sandra morava. Um pouco antes de entrar no projeto, a jovem tinha cursado apenas até o ensino fundamental. Aproveitou a oportunidade para voltar a estudar e conseguir o diploma do ensino médio. Era o início de uma trajetória de superação.
Paulistana e filha única de mãe baiana, Sandra aprendeu que quanto mais trabalhava, mais sentia a necessidade de se especializar. E foi o que fez. Hoje, a profissional pública é especialista em pedagogia hospitalar pela PUC-SP e é uma das fundadoras da Fundação Poder Jovem, a primeira casa de acolhimento para jovens 13 a 25 anos vivendo com HIV/Aids. Com uma carreira pública de 24 anos, Sandra é a presidente deste centro, que estimula os desenvolvimento psicossocial e autoestima das crianças e adolescentes através de atividades artísticas, culturais e educativas.
Para chegar até onde está, Sandra passou por um longo caminho. Com a terceirização do Projeto Favela, a profissional foi transferida para o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, unidade de saúde de referência em São Paulo. Diante do tamanho da instituição, Sandra se emocionou com a oportunidade de trabalhar em um lugar de tal porte. Alocada para trabalhar no Centro de Convivência Infantil, Sandra decidiu iniciar a graduação em Pedagogia para desenvolver atividades de estímulos para as crianças, através de ferramentas e técnicas do teatro. Com seu trabalho qualificado reconhecido, foi convidada para um novo projeto no hospital: as brinquedotecas.
Quando assumiu a coordenação desses espaços, em 2005, Sandra teve a ideia de adaptá-los em áreas de lazer e interativas, que atendessem melhor as crianças internadas na unidade de saúde. Apaixonada por cultura e arte, a profissional tornou o lugar um ambiente multidisciplinar; lúdico, pedagógico e hospitalar. E quanto mais tempo passava com seus pacientes, mais Sandra entendia suas necessidades e mais a realidade daqueles jovens movia a pedagoga.
Grande parte das crianças e adolescentes que Sandra atendia viviam com HIV e havia adquirido o vírus na hora do parto ou durante a amamentação. A pedagoga percebeu que esses jovens, independentemente de suas classes sociais, eram estigmatizados e se sentiam marginalizados — cenário que Sandra decidiu mudar.
Um dos momentos que mais marcou a profissional foi quando um adolescente soropositivo contou que a primeira vez que se sentiu inserido na sociedade foi ao participar de uma peça de teatro. Sandra viu que a partir dessas experiências poderia dar aos jovens novas perspectivas. Passou a levá-los ao teatro, cinema, e a promover novas brincadeiras que os estimulassem, promovendo a eles mais autoestima e confiança. A iniciativa foi crescendo até que Sandra decidiu criar a Poder Jovem.
Criada oficialmente em 2014, a fundação de Sandra é referência para órgãos como UNAIDS, Ministério de Saúde, CRT/aids e Fórum Ong Aids-SP. A maior gratificação, porém, é quando vê os jovens com quem trabalhou crescendo, constituindo família e dando continuidade à vida. “Você os vê se tornando professor de dança do projeto, amadurecendo, tendo filhos lindos que me chamam de vovó. São coisas que não tem como mensurar a importância”.